Imagine uma verdadeira usina de força cuja energia essencial provenha de um pequeno mais potentíssimo dínamo, capaz de gerar, armazenar e distribuir zilhões de kilowatts do mais puro soul/funk/r&b/blues/rock/reggae sem risco de apagões na pista, excetuando os eventuais colapsos na audiência devido à exaustão. Certamente você pensou em Arleigh Kincheloe (aka Sister Sparrow), frontwoman, compositora e líder inconteste da The Dirty Birds -combo formado por seu irmão e outro grande destaque, Jackson Kincheloe, na harmônica, seu primo Bram Kincheloe nas baquetas, Sasha Brown nas guitarras, o baixo cheio de hard groove de Aidan Carroll e um naipe de metais em brasa, JJ Byars no alto sax, Johnny Butler no barítono, Phil Rodriguez no trumpete e Ryan Snow no trombone e arranjos, capaz de ferver qualquer ambiente-, a última grande aposta para o cenário jam, arrancando elogios de uma galera do porte de Dr. John, Phish, The Neville Brothers, Grace Porter e, até mesmo, dos queridinhos indie Black Keys, dividindo palcos ou esquentando o público para todos; contam as más línguas que deixaram alguns headliners em maus lençóis. A última grande conquista da trupe foi abrir para Warren Haynes e sua Gov't Mule nas concorridas datas pré-pré-reveillon do Beacon Theater e ser convidada para uma uma apoteótica jam na já tradicional virada de ano capitaneada por Haynes no mesmo teatro, agora à bordo de uma van novinha adquirida através de doações de mais de 200 abnegados fãs que injetaram pouco mais de US$ 20,000 em uma conta disponibilizada pela banda no KickStarter.
Tudo começou muito cedo nas Catskill Mountains de NY, em uma familia que respirava música acima de qualquer outra coisa. E foi em apresentações com a banda de seus pais -ela, cantora country e ele, baterista- desde tenros 9 anos de idade, que a vocação e personalidade musical de Arleigh, hoje com muito bem nutridos e distribuidos 23 aninhos, desenvolveram-se, transformando-a também em uma compulsiva e talentosíssima compositora já na adolescência. Impressionado com a qualidade do material composto por sua irmã, Jackson convocou seu primo Bram, já um respeitado session man na California, para a arregimentação de um time de músicos capaz de conferir toda a força pela qual aquelas composições urgentemente clamavam. E assim o ano de 2008 testemunhou o nascimento da The Dirty Birds.
Em pouquíssimo tempo, notícias das explosivas apresentações no Rockwood Music Hall,
onde fixaram residência musical aos sábados, correram a região e o
espaço tornou-se pequeno demais obrigando a banda a pegar a estrada com
seu irresistível 'bailão da pesada'. Após 2 anos angariando
seguidores por onde passassem, era chegada a hora de encarar o estúdio
para a ingrata (mas salutar) tarefa de transpor para o CD toda a energia que eclodia quase que diariamente sem muito esforço no palco. A saída foi registrar todas as 12 faixas (de um repertório a esta altura já superior a 30) previamente escolhidas, em pouco mais de 24 horas. O resultado não poderia ser melhor pois 'Sister Sparrow & The Dirty Birds',
o disco, é um fantástico exercício de diversidade a favor da unidade,
em nenhum momento soando derivativo. Recheado de canções ganchudas e
irreprensivelmente executadas, destacam-se a pureza soul de 'Freight Train' e 'My House', a bluesy 'Eddy', os contagiantes reggaes 'Vices' -inspirada na versão da Blondie para 'The Tide Is High'- e 'Boom Boom' e o sacolejo funky de 'Quicksand', 'Road Trip' e a impregnada de citações 'Who Are You?'.
E foi este último gênero o mote de seu trabalho seguinte, 'Pound Of Dirt',
lançado na primeira metade do ano que passou. Agora gravado com mais
calma, as preocupações com timbres e precisão são flagrantes. No
entanto, ainda está lá a energia de suas performances em pérolas do
nível de 'Make It Rain' e 'Another Ride', o riff gordo e cheio de groove de 'Dirt', o funky sincopado de 'Too Much', a delicadeza de 'Hollow Bones' e a única faixa um tanto estranha ao universo da SSTDB, 'Horse To Water', um interessantíssimo caminho que poderá vir a ser explorado com mais profundidade nos próximos trabalhos.
Uma banda para ficar de ouvidos muito atentos pois não me espantaria que
este belo e afinadíssimo pardal, muito em breve, ultrapassasse as
fronteiras do ninho jam.
BY EDSON AQUINO "GRAVETOS E BERLOTAS"